terça-feira, 22 de abril de 2008
Comentários sobre gênero e homossexualidade em Minha vida em cor-de-rosa
RESUMO DO FILME “MINHA VIDA EM COR-DE-ROSA”
Tema-Lei e Sexualidade
Filme: Minha Vida Em Cor de Rosa (Ma Vie en Rose, Bélgica /França 1997)
De: Alain Berliner , com Michelle Laroque, Helene Vicent , Jean Phillippe
Sinopse: Funcionário de classe média tem problemas: seu filho, Ludovic, aparece na primeira festa para os vizinhos vestido de mulher. O que parecia uma brincadeira torna-se um problema na família, no trabalho e com os vizinhos. Mas Ludovic, com ingenuidade de criança, confessa que quer ser menina.
COMENTÁRIOS INTEGRADOS Á TEORIA
Ludovic, o protagonista, tem dificuldade em diferenciar sua identidade de gênero. Tyson&Tyson (1993) conceituam identidade de gênero como “uma combinação psicológica que combina e integra a identidade pessoal e o sexo biológico, e para a qual as relações de objeto, os ideais do superego e as influências culturais fazem contribuições significativas (...) e inclui todas aquelas características que compõem cada combinação individual de masculinidade e feminilidade, determinadas por uma ampla ordem de fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais” . Quando percebe que não deve, que não pode ser menina,assim como desejaria, luta com os pais para poder ser aceito, porém não consegue modificar seu jeito “menino-menina” de ser.Ele tenta mas não consegue ser o que os pais resolvem que ele deve ser: masculino, afinal, sua identidade de gênero nuclear já está estabelecida. Stoller (apud Tyson&Tyson, 1993) afirma que “a identidade de gênero nuclear é o sentido mais primitivo, consciente e inconsciente de pertencer a um sexo e não a outro”.
Ludovic foi livremente ‘deixado’ a poder viver sua bissexualidade infantil que, sem a disponibilidade do objeto masculino (pai) para cumprir a função de objeto de identificação, Ludovic identifica-se com as mulheres que lhe dão atenção e que o amam, tanto que sua avó é a única a aceitá-lo quando todos se dão conta que ele é diferente dos outros meninos de sua idade e o ridicularizam. Segundo Tyson&Tyson (1993) a ridicularização ou a não-responsividade por parte dos pais significa, para o menino, que ele é inadequado e não corresponde a seu ideal de ego, o que pode inibir o florescer completo de seu complexo de Édipo. Ludovic não olha para seu pai como um modelo de identificação: ele continua olhando para sua mãe e avó, que são figuras fortes para ele. As mulheres daquela família são figuras fortes e como ele não consegue se desidentificar da mãe, seu sentindo de masculinidade não se firma ( o pai tenta fazer esse papel mas já é muito tarde no processo identificatório do filho). O protagonista não consegue fazer uma mudança na sua fantasia sobre o objeto e mudança de papel em relação ao objeto amado, que seria o movimento do menino para a fase Edípica; até porque ele tem como objeto amado o pai, não a mãe. A mãe seria seu objeto identificatório. O autor refere também que o pai deve ajudar a minimizar a precoce ansiedade de castração do menino e a estabilizar a identidade de gênero nuclear, bem como reduzir a influência de tendência engolfante da mãe (que seria o caso de Ludovic, completamente submerso no universo feminino).
Há duas tarefas que os meninos devem realizar durante a fase fálica narcisista: encontrar uma visão narcisicamente valorizada de seu corpo masculino e de seu sentido de masculinidade e deve assumir um papel de gênero masculino. Ludovic ‘falha’ nisso e aparecem seus desejos e fantasias transexuais : ele se sente num corpo errado. Dançar, levar a boneca para a aula e gostar de um menino são maneiras que Ludovic encontrou, em sua latência, de colocar em prática muitas formas de papéis que, no caso, são femininos como os de sua mãe.
Ludovic deseja seu pai, pois ele não consegue entrar no Édipo e fazer a sua identificação masculina e mostra sua escolha de par sexual por meninos aos 8 anos (pelo filho do chefe de seu pai). Isso desperta vergonha e raiva na família e na vizinhança em relação ao “menino-menina”. Ludovic não parece ter angústia de castração pois parece já se sentir castrado desde sempre. Green (apud Tyson&Tyson,1993) afirma que a orientação ao par sexual expressa a preferência de uma pessoa com respeito ao sexo do objeto amado escolhido e que essa orientação teria origem cedo na vida com as relações de objeto pré-edípicas e edípicas embora a escolha possa não ser firmemente estabelecida nem fonte de conflito até a adolescência (no caso aqui abordado, o conflito iniciou na latência por causa de fatores externos, pois Ludovic era egossintônico, assim como estava sua família antes).
Foi relatado na terapia de Ludovic que seus pais queriam muito uma menina quando nasceu esse filho, porém negam que tenham ficado chateados com o sexo do filho quando este nasceu. Tyson& Tyson (1993) comentam que os pais dão à criança uma variedade de mensagens verbais e não verbais que transmitem o significado do masculino ou feminino definido pela família. Sua mãe permite que ele tenha cabelos mais compridos que os irmãos. Parece que a mãe inconscientemente nunca desaprovou a identificação que Ludovic fez com ela, nem a avó. Ninguém nunca explica para o menino que ele não tem a escolha de ser menina, permitem que sua fantasia siga um curso contínuo. Isso aparece bem na cena em que ele conversa com sua irmã mais velha e conta que “perdeu o X”, mas a irmã não discute com ele nem lhe diz nem sim nem não, então Ludovic mantém sua fantasia de ter sido injustiçado por quem lhe fez. Sendo assim, ele não consegue fazer uma “categorização do self” já que não consegue perceber as diferenças em si mesmo em relação aos outros. (ver Tyson&Tyson, 1993, p.197).
Uma demonstração de “corte” e de insight dos pais (tardio) é quando sua mãe corta seu cabelo, fazendo uma tentativa de fazer o filho perceber-se masculino com todos aqueles cabelos femininos sendo cortados.( Creio que a mãe também estava fazendo uma tentativa de vê-lo de forma masculina). Isso provoca aumento da angústia do seu conflito sexual (antes egossintônico) e angústia de aniquilação no “menino-menina”, fazendo com que ele sinta-se completamente indesejado e anormal do jeito que é (pelos pais e irmãos e socialmente) e que só vestindo-se de menina numa festa de vizinhos é que é cobrado a ser diferente do que sempre foi. Ele chega a tentar acabar com a angústia e com a vergonha que seus pais sentiam dele tentando se congelar no freezer.
É identificado com o papel sexual feminino, buscando roupas de menina, usando a cueca virada como que se fosse outra coisa que não cueca, passando batom, dançando como a mãe e a avó, brincando com a Pam (boneca tipo a Barbie), fantasiando um casamento com o amigo, fantasiando seus sonhos de ser menina como a Pam, sendo que parecia que só a boneca e sua avó o compreendiam. Um aspecto importante que os autores realçam é que a identidade do papel de gênero inclui contribuições significativas a partir do comportamento aprendido e determinado culturalmente, mas principalmente este aspecto da representação do self é formado sobre as interações sutis entre os pais e a criança no nascimento. Essas interações são influenciadas por atitudes dos pais frente ao sexo biológico da criança e pelo sentido de self de cada um dos pais como masculino ou feminino e pelo estilo com que cada um interage com o outro.
Ele também faz xixi sentado, para mostrar ao suposto namorado ( e à ele mesmo) que também podia ser menina já que assim queria. Os autores relatam que quando o pai está ausente ou não está envolvido com a criança, o interesse do menino no funcionamento urinário é retardado de forma que o urinar de pé também o é, o que pode trazer uma insegurança na masculinidade, o que também foi o caso do protagonista Ludovic, já que seu pai estava sempre muito ocupado e não lhe dava atenção, deixava que a mãe o educasse. Quando foi descoberto o desvio do menino, o pai disse à mãe “ele é seu filho” , ao que a mãe responde que Ludo é filho dele também. Portanto, aí também aparece as dificuldades do casal, já que o pai aparece-lhe como figura fraca e o menino teme ser desvalorizado pela mãe se for como o pai.
.Ludovic não conseguiu se desidentificar da mãe e da avó e assumir uma identificação masculina. Tyson&Tyson (1993) colocam que o tema mais difícil para o sexo masculino é estabelecer um sentido de identidade de gênero seguro. As identificações do menino para com seu objeto de amor primário podem diminuir seu sentido de masculinidade de forma que ele deva desidentificar-se da mãe para formar um sentido do self masculino seguro.
Os pais, no final do filme, acalmam o filho dizendo-lhe que ele seria amado do jeito que fosse. Seria razoável desses pais notarem que eles tiveram responsabilidade pelas escolhas que Ludovic fez: uma mãe forte, um pai mais ausente. E que agora, mais que nunca, ele precisaria de pais que tivessem orgulho dele, que o libidinizassem um pouco, para que tivesse condições internas de desenvolver uma segurança e uma confiança maior nesta fase para a sua vida.
Homem com H - Ney Matogrosso
Tom: Bm
Intro: Em A7 D G C#m5-/7 F#7
Bm Em A7 D C#7 F#7 Bm
Bm
Nunca vi rastro de cobra
Em
Nem couro de lobisomem
Se correr o bicho pega
Bm
Se ficar o bicho come
Bm/A
Porque eu sou é home
Abº
Porque eu sou é home
F#7
Menino eu sou é home
Bm
Menino eu sou é home
A7 D F#7
Quando eu estava pra nascer
Bm Em
De vez em quando eu ouvia
Bm Em
Eu ouvia mãe dizer
Bm Em
Ai meu Deus como eu queria
Bm Em
Que essa cabra fosse home
Bm
Cabra macho pra danar
Em A7 D
Ah! Mamãe aqui estou eu
G C#m5-/7
Mamãe aqui estou eu
F#7 Bm
Sou homem com H
F#7
E como sou
Estribilho
A7 D F#7
Eu sou homem com H
Bm Em
E com H sou muito home
Bm Em
Se você quer duvidar
Bm Em
Olhe bem pelo meu nome
Bm Em
Já tô quase namorando
Bm
Namorando pra casar
Em A7 D
Ah! Maria diz que eu sou
G C#m5-7
Maria diz que eu sou
F#7 B
Sou homem com H
E como sou
Referências Bibliográficas e da Internet:
TYSON, R. TYSON, P. Teorias Psicanalíticas de Desenvolvimento: uma integração. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993, cap15.
http://www.escutaanalitica.com.br/cursos/cinedebate.htm Site com o resumo de alguns filmes, como o Minha Vida em Cor-de-Rosa
http://www.mvhp.com.br/ney.htm Site com as letras das músicas do cantor Ney Matogrosso
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