terça-feira, 22 de abril de 2008

AO NOSSO ETERNO PROFESSOR MOSTARDEIRO

“Não explica demais”, disse-me durante uma supervisão. Tentarei ser breve e resumir uma relação especial de dupla. Sou pretensiosa em estar aqui? Sinto-me autorizada e já lhe dizia que ele lembrava meu avô, inteligente e debochado...

Na manhã da minha apresentação de caso, na reunião clínica dos sábados, estava tensa e angustiada sobre meu Estudo. Mas meu supervisor estava ali. Como um pai que investe e dá forças. Após o término da apresentação, elogiada e polêmica, sentindo-me enriquecida pela experiência, agradeci. Obrigada por ter me ensinado e ajudado, disse eu. “A gente só consegue ensinar quando o aluno está podendo aprender”, respondeu ele, com um sorriso de “não há de quê” que nunca mais esqueci.

Quase seis meses antes, quando toquei aquela campainha do seu consultório, já aluna, porém com muito medo de ser sua supervisionanda, não sabia o que me esperava. Não sabia ainda o valioso aprendizado que emergiria desta relação. O contato que amparava, sem perder a medida, ou o limite. Aquele professor que contava estórias, não só da Psicanálise, mas da fundação de Porto Alegre, das ruas da cidade, dos povos antigos, dos seus povos antigos, dos hábitos de Freud e Melanie, dos seus ancestrais, filhos, netos, secretárias e cachorros. A Dona Laura? Sua bisavó... Mostardeiro? Sobrenome adquirido após algum tempo, pelos irmãos Gonçalves, seus tios-avós, que ficaram conhecidos por venderem cobertores de Mostardas... aquela parte da cidade vislumbrada e desejada pelos seu bisavô quando chegava no porto da cidade? Bairro Moinhos de Vento...
Nunca mais esqueci uma série de coisas que vivi com ele (vivi, porque não só aprendi, e aprendizagem deve passar pelo afeto). “O mais importante é a relação que estabelecemos ali”, dizia.

Infelizmente, neste momento, a sua ausência aqui é imutável...

“Ensinar é um exercício de imortalidade,
de alguma forma continuamos
a viver naqueles cujos olhos
aprenderam a ver o mundo
pela magia da nossa palavra;
o professor, assim, não morre jamais” .
Rubem Alves


Com muita honra por sua atenção e dedicação, nunca morrerás naqueles que podes tocar...

Rita Daniela Bruni Nunes - aluna, supervisionanda, assistente e admiradora, de 2003 a 2006


“Vamos ter que ficar por aqui hoje...”

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