segunda-feira, 21 de abril de 2008

A Importância da Psicoterapia na Qualidade de Vida - DIDÁTICO

Rita Daniela Bruni Nunes*

Fala-se muito em psicoterapia, mas será que as pessoas acreditam mesmo nos muitos ganhos que ela pode gerar? De uma forma bem simples, vamos começar a saber do que estamos tratando aqui, pois por ‘terapia’ pode-se conceitualizar desde as mais antigas e tradicionais, como a psicanálise (de Sigmund Freud) até diversas outras, como as terapias alternativas, de florais, por exemplo.
Dentro dessas linhas mais tradicionais, podemos afirmar que psicoterapia é um tratamento, realizado por psicólogos e psiquiatras, no qual o paciente (ou seus pais, no caso de crianças e alguns adolescentes) procura ajuda profissional porque está passando por algum tipo de sofrimento. Através da escuta sobre a fala do paciente e com técnicas apropriadas, o terapeuta tenta trabalhar o porquê do seu sofrimento e como auxilia-lo a adaptar-se ou mudar posturas, atitudes, medos, enfim, coisas do seu estado emocional que lhe estão atrapalhando.
Há diversas abordagens ou linhas diferentes dentro das áreas “psis”. Há uma linha mais tradicional, a psicodinâmica (referencial psicanalítico), onde acredita-se que somente extrair o sintoma não é tudo, pois nos baseamos que exista um conflito inconsciente e que é lá que devemos tentar chegar para ajudarmos o paciente a entender o porquê do seu sofrimento e assim buscar o insight (ou o “dar-se conta”) sobre suas coisas. Há a cognitivo-comportamental, a transpessoal, a humanista... várias abordagens que visam o mesmo objetivo:auxiliar.
Um aspecto fundamental é a relação paciente-terapeuta: ambos precisam estar cientes de seus papéis e que cada um é parte importante do processo. O terapeuta não está sozinho ajudando o paciente: se um dos dois não colabora, o processo não anda. Por isso é importante que o paciente esteja motivado a se tratar. Algumas vezes um paciente não gosta de um terapeuta ou de sua linha teórica; quando há mesmo pouca afinidade , pode-se trocar o profissional, desde que isso não vire rotina, pois é até esperado que haja situações mais conturbadas entre os dois: faz parte do processo psicoterápico e é necessário algum sofrimento para obter mudanças internas.
Mas afinal, por que a psicoterapia pode melhorar a qualidade de vida das pessoas? E de que pessoas? Bom, ela não é um bate-papo qualquer. Os terapeutas (psicólogos ou psiquiatras) estudam muito e usam técnicas para ajudar o paciente a fazer suas próprias escolhas e retomar seu caminho. Por que conviver com um sofrimento que não se quer? Por que não viver conseguindo se permitir viver diferente, se como está, não se está legal??
Por outro lado, buscar ajuda quando se está precisando é algo difícil. A pessoa tem que se dar conta que não está conseguindo se administrar sozinha e que quer mudar. Este reconhecimento é o principal, porém, como é difícil admitir isso, muita gente que poderia estar vivendo melhor a sua vida não consegue definir e buscar os serviços especializados, ou vai uma ou duas vezes nas sessões e diz que já está bem. Isso acontece muito porque existe uma ambivalência dentro de nós: uma parte de nós quer mudar; a outra tem medo das mudanças porque elas são desconhecidas e prefere ficar do jeito que está a arriscar ficar melhor. A terapia demanda também um custo financeiro, mas principalmente uma disponibilidade interna da pessoa em ir ao consultório por algum tempo e falar de si mesmo_ o que nem sempre é um processo fácil.
Hoje se sabe dos benefícios e modificações que um tratamento pode realizar num indivíduo, o que vai contra os preconceitos que pessoas desatualizadas ainda mantém em relação ao assunto. Isso sim, acaba levando à loucura, à falta de alternativa na tentativa de melhorar a forma de viver a vida, o que leva à conformidade (“ eu sempre fui assim e não vou mudar mesmo”) e não há renovação na evolução da vida de cada uma dessas pessoas, fazendo com que o novo conceito não seja aceito, isto é, que procurar ajuda quando não se está bem é sinal, sim, é de SAÚDE, um investimento para si mesmo!
Terapia muitas vezes sai barato em relação a tudo que uma pessoa pode fazer quando está em sofrimento, mesmo que ela não se dê conta disso. Pode perder ou mesmo ter grandes dificuldades no emprego, família, relações sociais e amorosas, por causa de dificuldades que poderia ter superado se tivesse buscado mudar. Não podemos esquecer que somos nós os donos de nossas vidas, portanto, em geral, é nossa responsabilidade o que nos acontece ou deixa de acontecer e o que fazemos ou não. É difícil ver uma pessoa que não tenha, uma vez na vida, precisado de alguém para conversar, passado por uma perda importante, um divórcio, que não saiba lidar com a adolescência dos filhos em algum sentido, etc. Atualmente, em psicologia, falamos em prevenção. Então, uma pessoa pode sentir-se bem, sem nenhum sofrimento maior, porém pensar em procurar atendimento para entender algumas coisas que acontecem com ela e para se conhecer mais ou melhorar outros aspectos que acha que não estão 100%: talvez ela possa estar prevenindo um aspecto que ela não havia se dado conta que poderia estar piorando em sua vida ou realmente não haja indicação de uma psicoterapia. Em qualquer um dos casos, quem pode dar um diagnóstico ou uma opinião é o próprio especialista.
Por que muitas vezes uma pessoa paga uma consulta médica para tratar um rim, ou economiza para comprar bens materiais e está sempre reclamando do preço de um tratamento psicoterápico? É claro que temos nosso problemas sociais, no entanto, a resposta que mais acredito é que isto ainda não tem sido valorizado nem creditado do jeito que deveria. “Facilita-nos” se colocarmos no mundo as culpas das desgraças das nossas vidas ao invés de verdadeiramente pararmos e olharmos para dentro de nós. A “conversa” da psicoterapia tem um porquê, não é uma ‘bate-papo’ de comadres...!É ciência, um acolhimento ao paciente que está com uma dor psíquica, muitas vezes pior que a dor física e quem não percebe isso está por fora do desenvolvimento da psicoterapia nos últimos cento e poucos anos. Conversar com amigos, por exemplo, não é um atendimento profissional, com objetivos específicos; naturalmente pode ajudar em outro nível, pois trocar idéias é importante e saudável, mas não é terapia!
Qual a importância em se tratar? O que pode mudar na vida de uma pessoa quando ela resolve procurar ajuda profissional? Ela consegue mudar ? Ela consegue se livrar do sofrimento pelo qual ela pediu ajuda? Vamos pensar nisso juntos. O importante nestas questões é que ela queira e possa se ajudar, pois o terapeuta apenas facilita o processo, com sua postura neutra (por não ser alguém da família ou amigo íntimo) e assim, o paciente pode tentar ver suas coisas sem um julgamento, através de uma pessoa que está distanciada do seu meio e que pode enxergar diferente dele.

(Artigo publiaco no Jornal Destaque de Esteio, RS, em 2002)

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