(Foto by Rafael Palmeiro)
Quando fiz a releitura do artigo do colega (NUNES, Carlos Eduardo Gomes. Adolescência e paternidade: um duelo de papéis sociais. In: Psico, v. 29, n. 1, p.125-138, 1998) , pensei em tecer alguns comentários que compartilharei aqui com vocês.É um artigo que não levou em conta muitas variáveis, como por exemplo o nível sócio-econômico-cultural, idades e número de filhos dos sujeitos, porém pareceu-me que, mesmo com pequena amostra -é qualitativo- não deixou de ser um estudo exploratório de valor.
O fato de um adolescente virar pai por si só já é polêmico e geralmente é uma situação complicada. Isso porque quando um adolescente se torna pai, ele está pulando ou adiantando uma etapa de seu desenvolvimento no qual ele deveria estar se experimentando como se fosse um adulto, mas podendo voltar a ser criança quando assim desejasse.
Acontece que, tanto meninos quanto meninas, muitas vezes se atrapalham com o turbilhão de sentimentos, conhecimentos, curiosidades que estão percebendo e adquirindo em relação a como se relacionar com um outro. Acabam algumas vezes por seguir seus impulsos sexuais, quando não sabem como se proteger de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada ou até sabem, mas não foi bem introjetado ou têm pouca prática no uso dos contraceptivos.A sociedade tem muito a ver com isso. Explico-me: antigamente, tudo era tabu, falar de sexo, principalmente entre as mulheres, era muito delicado. Quando aconteceu a revolução sexual, em meados dos anos 70 e a descoberta da pílula, muitos conceitos começaram a ser questionados, tais como o porquê da virgindade feminina se já se poderia separar o prazer da responsabilidade. Acontece que a sociedade mudou valores, porém não se preocupou com a orientação sexual dessas novas gerações e as conseqüências dessa mudança . A escola quer ainda que os pais falem disso em casa e os pais querem se livrar dessa tarefa, passando-a para a escola, pois viveram numa sociedade onde o assunto era raramente discutido; outras vezes o era antes do casamento e, ainda assim, em poucas famílias .
E há também o preconceito que são os adolescentes homens que devem se preocupar com métodos anticoncepcionais, já que se tem em mente que mulheres não têm sexualidade prazerosa ou não tomam a iniciativa sobre o transar ou não. Historicamente, mulheres são 'proibidas' de sentirem prazer; é “feio e pecaminoso”. Será que isso não é responsabilidade de ambos jovens e de seus pais também? Afinal, como já sabemos, os adolescentes têm pensamento onipotente, e acham que com eles nada vai acontecer, sendo esse pensamento normal nesta fase-podemos chamar de fase da VULNERABILIDADE.
Muitos pais de adolescentes não querem falar sobre isso pois percebem que seus filhos estão quase adultos e muitas vezes negam isso inconscientemente, pois o raciocínio lógico é que quando os filhos ficarem adultos, os pais, mais cedo ou mais tarde, morrerão. E isso pode ser difícil de ser enfrentado pelos pais ou mesmo pelos próprios filhos adolescentes.
Quando o pior acontece, isto é, essas meninas engravidam, o que fazer? A sociedade faz um papel de repressora dos impulsos desses meninos (os pais adolescentes), entretanto, esta mesma sociedade acaba representando os pais internos dos adolescentes, impondo um mínimo de limites e funções (superego internalizado) no que concerne ao seu dever enquanto que pais. E, como mostra o estudo, esses pais-adolescentes podem demorar a acreditar que aquele bebê é seu, mas com a tecnologia dos exames de dna ( e seu agora baixo preço), eles acabam por ‘digerir’ a informação e aceitar a função paterna algum tempo depois da mãe, em geral, pois a mãe sente e enxerga sua barriga todo dia; já o pai pode enxergar menos e sentir menos o seu bebê, pois ele não está dentro do seu corpo e,assim, a negação torna-se mais facilitada.
Quais são as conseqüências de ser pai tão cedo? Pouco se fala nos pais, fala-se mais sobre as mães. Até nisto os pais levam menos destaque ( e é claro que a função paterna tem menor importância nos primeiros tempos comparada à da materna). Se pudermos pensar sobre que acontece quando esses sujeitos não vivem sua adolescência plenamente, aparece que os relacionamentos entre o pai e a mãe adolescente ficam mais conflituados, precisam ser mais responsáveis, abrindo mão de festas ou sentindo-se culpados quando experimentam novos relacionamentos: “uma parte da vida é deixada para trás, que poderá ser (re) vivida em um outro momento posterior” (Nunes, p. 138) e isto pode significar que o adolescente possa vir a fazer coisas de adolescente quando tiver 30, 40 anos, o que pode ser uma situação complicada novamente, já que a sociedade cobra posturas adequadas com a etapa de vida de cada um e existe um tempo para cada fase.
Em relação ao suporte financeiro que este bebê precisará, a sociedade comanda a pressão começando pelos pais do adolescente ou da adolescente. A responsabilidade tem sido do menino, já que a menina está passando por mudanças corporais e a idéia de ser mãe cada vez mais presente ( sua barriga aumenta, estranha as novas sensações corporais, etc) e mesmo quando a menina trabalha fora, ela entrará em licença gestante. Portanto, o pai provavelmente começará com sua aceitação do papel de pai quando este aspecto também for cumprido (quando os pais do pai-adolescente ou da mãe-adolescente sustentam-os, tenderão a mandar na casa ou na educação do bebê também e dessa forma o papel de avós também não estará bem realizado. Naturalmente que, quando são combinações intra-familiares, por vezes vêm para auxiliar esses jovens, mas não podemos esquecer que mesmo que o período de auxílio -em qualquer nível- seja curto, há uma noção do tipo de relação que está se estabelecendo.
Devemos repensar qual é o papel desse pai-adolescente que talvez realmente tenha de assumir a responsabilidade sobre esta criança, assim como a mãe, porém também lembrarmos quais são os papéis atuais dessa sociedade que pune e não dá aberturas, bem como mais especificamente dos pais dos adolescentes, que devem estar preparados para poder atentar para o que se passa com eles. Infelizmente, os papéis sociais de pai e adolescente são pouco compatíveis e é difícil conciliá-los sem algum prejuízo, em alguma área.
Artigo escrito e apresentado para a cadeira de Desenvolvimento III, da FUMM, em 10/06/03)
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