terça-feira, 9 de setembro de 2008

Wilson speaks: O Náufrago e a Psicanálise (idéias para um ensaio)




NÁUFRAGO ("Cast Away"), de Robert Zemeckis (2000), conta a história de um inspetor da FedEx, Chuck Noland, cuja vida é sempre ocupada demais para lidar com os assuntos familiares e sentimentais. Após um acidente aéreo, acaba isolado em uma ilha, onde é obrigado a sobreviver sem nenhuma das "regalias" que existem na vida contemporânea, tendo apenas como companhia uma foto da sua mulher e uma bola de vôlei, a qual apelida de Wilson. Noland é obrigado a sobreviver e pensar em algum modo de sair da ilha, construindo assim uma jangada para poder ir para o alto mar, com a esperança de encontrar algum território. (ver Wikipédia)
O personagem de Tom Hanks fica preso nessa ilha por quatro anos e aprende que precisa lutar para sobreviver tanto fisicamente quanto emocionalmente. Ele agüenta praticar a arte que é o "não-enlouquecer", inclusive quando conversa com o "amigo e companheiro" Wilson, recusando-se a ficar "sozinho-sozinho" em muitos sentidos. Essa criação do amigo imaginário mostra o nosso maior temor de ficarmos sós. As crianças costumam fazer isso algumas vezes, pois a fantasia faz parte da vida de todo ser humano. É o que nos possibilita suportar a realidade e, no caso do personagem, ele precisou retomar isso. Assim como para Chuck naquele momento dramático e trágico, as crianças precisam da imaginação e da criatividade para lidar com uma série de situações internas e externas.
O filme é uma obra-prima. Quem não curtiu deve ter visto com pressa ou não ter sensibilidade e paciência para entendê-lo. Eu assisti muitas vezes para TENTAR entender tudo que eu poderia entender, pois ele é sutil em diversas partes. O final é sutil as well e adorei o "Who knows what the tide could bring?" ... a vida é assim mesmo e, na real, não controlamos nada! Tentamos muito, até para não falarmos com bolas por aí, mas o falar com a bola Wilson, eu vejo como ele falando com suas próprias projeções e esperanças, era o alter-ego dele. Era um parceiro, para que ele sobrevivesse sem perder a sanidade e o resto do seu "ser-social" e nem ao seu ego-nosso mediador. Sem o Wilson talvez ele não o teria conseguido... (manter a sanidade e a vontade de voltar a ser um ser civilizado, bem como forças para lutar e conseguir).
Que a vida possa oferecer a todos nós marés ferozes que nos ensinem e marés mansas e divertidas que nos tranqüilizem trazendo alegrias para nossos dias. E quem disse que era fácil?
Rita Nunes - 10/09/2008